quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Lídice na luta para ser a candidata da base do governo

Osvaldo Lyra*
Senadora eleita pelo PSB em 2010, na chapa que reelegeu o governador Jaques Wagner, Lídice da Mata frisa que não existe qualquer hipótese de rompimento entre ela e o atual ocupante do Palácio de Ondina. Ainda que ressalte a relação política e de amizade, a senadora não usa meias palavras para se apresentar como candidata à sucessão de Wagner, ainda que não condicione essa candidatura à do correligionário Eduardo Campos a presidente. “Eu estou na disputa. Eu recebo apoio de diversos segmentos da base do governo”, assegura Lídice. Numa avaliação do atual cenário, no entanto, ela prefere ter cautela. 
“Eu tenho conversado com os outros partidos aliados, mas como eu penso que 2013 não é o momento de se fechar todas as alianças, nem de se antecipar o jogo, nós estamos conversando, ouvindo os partidos”, sinaliza. 
Tribuna – Senadora, acredita que os protestos recentes vão impactar na reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014? 
Lídice da Mata – Já impactaram no Brasil inteiro, na avaliação de todos os governadores, do governo da presidente, especialmente dos governos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Já tiveram um papel histórico cumprido. Se elas vão impactar mais ainda, eu acho que só se elas evoluírem, se houver uma volta às ruas, com agendas que se voltem contra o governo. Por enquanto, eu acho que elas já impactaram e que há tempo para uma recuperação do prestígio dos governadores e da presidente da República até a próxima eleição. 
Tribuna – Com a queda na avaliação de Dilma e do governador Wagner, a senhora acredita que o PT na Bahia terá condições de impor candidato à base? 
Lídice – Eu acho que imposição nunca é uma boa medida, mas eu não acho que o fato de haver esses desgastes queria dizer que o PT acabou. Não é isso. Nem eu coloco dessa forma. O PT é um grande partido, o maior partido de esquerda no nosso país, tem vinculação com movimentos populares, vinculações fortes com movimentos religiosos, com movimentos de trabalhadores rurais, urbanos. O que eu diria é que o PT, enquanto partido, pagou o preço de ter um certo desgaste, não apenas pelo fato de a presidente da República ser do PT e, portanto, haver esse desgaste. Houve um desgaste objetivo do PT em função de estar na Presidência da República, do que foi o PT antes, das suas promessas, da sua radicalidade, da sua apresentação como um partido da “ética pela ética”, do moralismo pelo moralismo, de um partido que tinha uma posição sectária frente às alianças e que foi obrigado a fazer concessões, obrigado a fazer alianças, alianças que eu diria heterodoxas, porque não ficou apenas num campo democrático, foi mais adiante, que eu compreendo todas, mas eu sou oriunda de partidos e de movimentos que sempre defenderam frentes políticas. Nós defendemos a frente ampla, com segmentos da chamada burguesia nacional, no tempo da ditadura militar. No período em que o PT surgiu, eu sempre estive defendendo posições democráticas para fazer avançar a nossa luta e depois aprofundá-las. O PT não, o PT cresceu na negação das alianças e é por isso que ele é cobrado agora. Há uma diferença. Há uma crítica ao PT, porque é uma crítica ao conjunto da esquerda, o PT como principal partido e é o principal partido porque se sustentou num discurso que era também de direita. Era até bem um discurso de direita. Um discurso meio Carlos Lacerda à esquerda, aquele discurso do combate à corrupção pela corrupção. Esse foi o PT que eu conheci. Nos primórdios do PT. Eu diria que o PT está bebendo um pouco do seu próprio veneno. 
Tribuna – Como a senhora vê a afirmação do governador de que o PT tem legitimidade para encabeçar o processo de sucessão dele? Não há espaço para os outros partidos? 
Lídice – Veja bem, são duas coisas diferentes. O governador, o que ele disse, é absolutamente correto. O PT tem legitimidade sim. Por que não teria? É o maior partido dentro da frente, é o partido do governador, é o partido da presidente da República. O que eu digo é que isso não basta. E ele não negou que houvesse legitimidade dos outros também. Ele fala da legitimidade, da minha, da de Marcelo (Nilo), da de Otto (Alencar). Da de todos aqueles que compõem a frente. O governador Jaques Wagner é um democrata. É um democrata com um partido. Sofre a pressão do seu partido, mas ele é um democrata. É um democrata e é o líder desse processo político. Nós temos confiança na sua liderança e achamos que a imprensa gosta de explorar a palavra lá, que o cara falou, que o tom foi diferente. Não existe isso. Aliás, chegaram a colocar no jornal agora que o governador estava quase se confrontando comigo. Não há nenhum confronto entre mim e Wagner. 
Tribuna – Há risco de rompimento? 
Lídice - Quem tiver apostando que eu e Wagner vamos brigar, perdem tempo. Além do nosso respeito político, além do exercício da liderança do governador no estado, de eu respeitar profundamente a sua liderança, eu sou amiga pessoal de Wagner. Eu tenho confiança pessoal nele, assim como tenho convicção que ele tem em mim. Então, eu não serei uma candidata contra o governo Wagner, porque se eu fosse uma candidata contra o governo Wagner, eu seria uma candidata incoerente, contra mim mesma. Porque eu apostei nesse projeto, o PSB apoiou Wagner antes do PT apoiar. Antes do PT apoiar a candidatura de Wagner, eu fui a Brasília pedir uma conversa com o ministro Jaques Wagner e disse: “nós vamos apoiar você. Nós tínhamos discutido na executiva do PSB e chegamos à conclusão que você é o melhor candidato. Nós estamos dispostos a lhe apoiar”. O governador deve lembrar disso. Oferecemos que nós começássemos a trabalhar com o Instituto Pensar, com instituições próximas a nossa militância, no sentido de começar a construir um programa de governo com ele. Então, nós apoiamos Wagner antes do PT. Não há nenhuma possibilidade de rompimento ou de estranhamentos entre mim e Wagner. Acabamos de ter uma ótima conversa. Tudo que eu fizer será conversado com o governador e acordado com o governador. Pode ser que o governador tome decisões que eu não concorde, como eu posso ter que tomar decisões que não sejam as que ele considerar melhor. Mas isso não quer dizer que nós tenhamos qualquer rompimento nem no plano pessoal nem no plano político ideológico.
Tribuna – A senhora está na disputa ou a candidatura da senhora depende da entrada de Eduardo Campos no cenário nacional?
Lídice – Eu estou na disputa. Eu recebo apoio de diversos segmentos da base do governo. Não são segmentos formais, são pessoas, são eleitores que me procuram diariamente para dizer que apoiam a minha candidatura. Eu vou continuar lutando para ser candidata do governo, para ser candidatada da base. Só que eu acho que nós temos ainda um longo caminho em 2013. Eu estou trabalhando no Senado, aprovei projetos importantes no Senado este ano, aprovei uma lei de facilitação da implantação das Zonas de Processamento de Exportação no Brasil, as ZPEs, que é uma lei importantíssima. Nós precisamos. Em 2013, desde o início, desde o final do ano passado, que o PSB repete isso como um mantra: “2013 será um ano difícil para a economia, nós temos que concentrar na gestão, na administração. Em 2014 nós trataremos de 2014 e da eleição”. Eu estou muito preocupada em ajudar os prefeitos do PSB a governar. Temos feito seminários de formação, temos colocado assessorias à disposição dos prefeitos, indo até os municípios, fazendo planejamento estratégico, debatendo a realidade do município, identificando linhas de financiamento no governo federal para que os municípios possam sair dessa dificuldade, lutando em Brasília com a tese que há muito nós estamos debatendo que é a reforma urbana já. E as ruas consolidaram esse posicionamento nosso, demonstrou que o PSB está com sua sensibilidade apurada, antenada com as necessidades do povo. Discutindo a necessidade de inversão do pacto federativo. Não é possível continuar com a concentração das receitas do país na União. É preciso repensar outro modelo de Brasil. É preciso reformular as nossas políticas. 
Tribuna – O PT está no poder há 10 anos e não demonstrou capacidade de provocar essa mudança. A senhora acredita que Eduardo Campos vai conseguir fazer essa modificação que a senhora prega?
Lídice – Eu diria que o PT não demonstrou possibilidade de mudar. O PT foi um aliado de projeto. O projeto do SUS foi implantado depois da constituinte e se desenvolveu a partir do governo de Fernando Henrique para cá, e o governo Lula foi um aliado e investiu com muito vigor e o governo Dilma também, no processo de ampliação do SUS. Eu diria que cada governo respondeu a uma etapa, uma necessidade do povo brasileiro. Agora nós temos a necessidade de intensificar a nossa capacidade de gestão e de velocidade na aplicação das políticas públicas e dos investimentos necessários para o Brasil. É claro que o governo Dilma está fazendo um esforço enorme para viabilizar isso. Mas não está sendo fácil. Eu acho que a experiência de Eduardo como gestor de um estado nordestino, de um estado difícil, que passa as dificuldades da seca e que tem uma gestão muito bem aprovada, pode fazer sim com que ele se torne um candidato que empolgue o Brasil pela sua capacidade de dar resolução a problemas.
Tribuna – Prevendo o eventual lançamento de sua candidatura ao governo, já iniciou o entendimento com os outros partidos aliados?
Lídice – Eu tenho conversado com os outros partidos aliados, mas como eu penso que 2013 não é o momento de se fechar todas as alianças, nem de se antecipar o jogo, nós estamos conversando, ouvindo os partidos. As ruas demonstraram que é muito mais necessário para os políticos ouvir do que falar neste momento. O próprio governador Jaques Wagner está fazendo isso. Está fazendo uma bateria de conversas com movimentos sociais, mulheres, negros, enfim, está ouvindo a sociedade, como a presidente também.
Tribuna – A senhora, lançando a sua candidatura, vai conseguir atrair partidos da base para o seu projeto? Ou agregar partidos da oposição? 
Lídice – Não necessariamente. Claro que eu espero que eu possa agregar. A minha candidatura não pode ser uma candidatura só da minha cabeça. Ela tem que apresentar um projeto maior do que o meu partido, senão eu seria candidata a continuar sendo presidente do PSB. E eu quero ser candidata ao governo do estado da Bahia. Ela tem que falar para a sociedade e receber apoio da sociedade, sem partido, apartidária, suprapartidária, para atrair segmentos de outros partidos, de outras legendas e, de preferência, que tenham apoio do governador. Que seja uma candidatura – eu quero ser candidata – com apoio do governador. Vou lutar por isso. Vou lutar para ser a candidata de Wagner ao governo. 
Tribuna – Erros e acertos do governo Wagner? O que a senhora pontua de mais importante até agora?  
Lídice – Eu não posso pontuar erros e acertos de um governo que não terminou. Balanço de governo se faz depois que o governo acaba. Nós estamos em pleno exercício de governo e, diferente de alguns do PT que querem diminuir o tempo de governo do governador, antecipando o debate eleitoral, eu quero prolongar. Eu acho que o governador teve uma marca indiscutível para a política da Bahia que foi a redemocratização da Bahia. A democratização do espaço político, a instalação e a instauração de uma nova cultura política no nosso estado, uma cultura política democrática, de ouvir, de debater, de permitir o crescimento de todos. 
Tribuna – O PT até agora não conseguiu avançar em aspectos importantes do estado. O que, na visão da senhora, faria diferente para otimizar e buscar uma maior eficiência na gestão da Bahia? 
Lídice – Eu continuo achando que vocês insistem em tratar o governo como se o governo fosse do PT apenas. O governo não é apenas do PT. Eu participo desse governo desde o início. Dou meu palpite, minha opinião. Muitas vezes me ouvem, outras vezes não ouvem. Isso faz parte do processo. O governo é um governo do PCdoB, do PSB, do PP. Tem pastas importantes na mão do PSD. O vice-governador é do PSD. E tem a pasta da Infraestrutura, aliás, muito bem em todo o estado. Mais de 7 mil quilômetros de estradas recompostas ou construídas pelo governo Wagner. Tem a Saúde que está na mão do PT, tem Educação que está na mão do PT, mas o Trabalho está na mão do PCdoB, o Turismo está na mão do PSB. Eu posso pensar sobre coisas que faria diferente porque tenho outro jeito, porque sou mulher e, obviamente, sendo mulher, vou ter políticas focadas na inclusão desse segmento da população como mulher. Vou estar focada para a construção de creches. Essa é uma necessidade imediata da sociedade brasileira. Creches públicas, creches privadas. Hoje nós não temos nem pública e nem privada. O número de públicas que nós temos para um país de dimensões continentais como o nosso é infinitamente pequeno. Os municípios não podem sustentar as creches com os recursos que têm. Nós precisamos pensar em políticas de sustentação. O governo federal vem elaborando, implementando políticas, estimulando, indicando políticas estruturantes na área social, mas não dá sustentação para que essas políticas sejam financiadas. Nós não podemos continuar dando creches, construindo creches para o prefeito sustentar a creche. Dando o Samu para o prefeito manter o Samu. Construindo UPAs ou postos de Programa de Saúde da Família, de unidade de Saúda da Família, com os prefeitos dando sustentação a isso. Não há possibilidade dessas políticas se sustentarem com aquela parte menor do quinhão da receita produzida pelo país, que está nas mãos dos municípios.
Tribuna – A senhora acredita que a base do governo dividida, com duas candidaturas, facilitaria para a oposição na Bahia retomar o poder? 
Lídice – Não. Nós temos eleição de dois turnos. Isso só é verdade nos pequenos municípios, onde não tem eleição de dois turnos. Nós temos eleições de dois turnos. Todos os partidos que integram a base estão legitimados para desejarem ter uma candidatura. E podem até ter projetos partidários que levem a isso. O que nós temos é que defender os princípios que tornaram possível esse governo ser eleito aqui na Bahia. As principais políticas estruturadas por esse governo na Bahia. As principais marcas de democratização do acesso do povo às políticas públicas que esse governo implementou. Essa é a nossa obrigação.
Tribuna – O governo ACM Neto ainda é tímido ou era esperado esse período de arrumação de casa? A população espera mais do governo ACM Neto, já que a senhora foi prefeita da cidade? 
Lídice – Eu não votei em ACM Neto publicamente. Eu ajudei e trabalhei por Nelson Pelegrino. Fui uma das coordenadoras da campanha, junto com (Walter) Pinheiro, então a minha expectativa era sobre o governo de Nelson e não sobre o governo de Neto. Agora, é claro que eu reconheço que ele ganhou a eleição, e se ganhou é porque havia uma expectativa que houvesse uma mudança. Acho que a sua situação é muito delicada porque a cidade tem poucos recursos. Ele tem encontrado em nós, eu estou à disposição do prefeito, da prefeitura e da minha cidade para ajudar em Brasília. Todos os três senadores da Bahia, os deputados federais, nossa bancada tem trabalhado nessa direção. As emendas de bancada do fim do ano passado demonstram isso, nosso desejo de contribuir com Salvador, e, mais do que tudo isso, o governador, que é quem mais pode ajudar e está ajudando. O nível de investimento anunciado pelo governo federal e pelo governo do estado em Salvador, eu gostaria de ter tido a possibilidade de ter esse tipo de ajuda. Agora, não é fácil. A cidade estava muito desarrumada. A cidade precisa ser repensada, e aí é que mora o problema. Quando as pessoas discutem o processo eleitoral, são muitas promessas sem estar conectadas com os conflitos da cidade. Há uma questão em discussão na cidade, que é a ocupação do espaço público, de que forma ele vai ser ocupado. Isso não quer dizer que nós vamos impedir os empreendimentos privados, a iniciativa privada, o crescimento da indústria imobiliária. Não. Mas nós precisamos que isso ocorra com equilíbrio, com a necessidade de ter uma cidade para o povo viver. 
Tribuna – Que dê contrapartidas para a própria população...
Lídice – E a contrapartida não pode ser a única contrapartida que vá gerar emprego e renda. Porque gera na construção civil empregos. Não é isso. Passa das construções dos prédios. Nós precisamos de uma cidade melhor para que a gente possa viver menos sufocado. Menos estressante. Salvador não tem passeios públicos. Os passeios públicos não existem e os privados não são fiscalizados nem estimulados a existirem. São estreitos. As ruas são pequenas, estreitas em qualquer lugar da cidade. É impressionante. E não tem passeio para as pessoas andarem. Nas velhas avenidas, onde era natural, seria natural, porque não tinha carro naquele tempo, mas nas novas avenidas pior ainda. É aí mesmo que não tem passeios largos, que não tem ruas largas, salvo alguns trechos muito pequenos. Na Pituba, por exemplo. São complicados. O prefeito não tem recursos para fazer mudanças mais profundas. Tenho visto que ele tem boas intenções, que tem apresentado projetos interessantes, agora a chuva também está castigando. Eu acho que se eu fosse governadora eu ia propor ao prefeito passar uns 15 dias no semiárido, visitando o interior do estado, debatendo os problemas com os prefeitos para ver se ele levava um pouco dessa chuva pro interior.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O inferno astral da estrela branca

Eugênio Buci*
Uma estrela branca, de cinco pontas, sobre fundo vermelho. Vermelho bombeiro. Vermelho Coca-Cola. Vermelho do Boi Garantido. Vermelho bolchevique. Vermelho total. Uma estrela branca emoldurada de vermelho. Convenhamos, não era um símbolo que primasse pela originalidade ou pela ousadia. Não era inusitado, não era inventivo, era apenas óbvio. Mesmo assim, foi ele que vingou. Na falta de um logotipo mais profissional, mais publicitário (a indústria do marketing só chegaria mais tarde àquelas plagas), foi esse o símbolo adotado pelo Partido dos Trabalhadores, o PT, bem no seu início, no começo dos anos 80: uma estrela branca, banal, sobre fundo vermelho. Diz a lenda que quem costurou a primeira bandeira do partido foi dona Marisa Letícia, em pessoa, a mulher do líder metalúrgico de cognome Lula, astro maior do partido da estrela. Desde então, a marca do PT ficou inscrita no DNA da democracia que sobreveio à ditadura militar no Brasil. Não dá para entender o Brasil de hoje sem entender o PT e sua estrela. O PT é um dos construtores, se não o principal, do Estado de Direito em que hoje vivemos por aqui. A começar da derrubada da ditadura. 
Foram as greves do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, lideradas por Lula, que puseram contra a parede o aparato repressivo do regime militar, forçando o recuo definitivo. Mais tarde, a campanha por eleições diretas, as Diretas-Já, que levou milhões de cidadãos às ruas em 1984, tinha José Dirceu na organização logística de todo o movimento - revelava-se ali o estrategista e empreendedor arguto, ambicioso e brilhante, o principal articulador da máquina partidária e do que ele gostava de chamar de "arco de alianças" que conduziria Lula à Presidência da República em 2002. Em 1988, a nova Constituição brasileira saiu do Congresso com a inconfundível impressão digital da estrela branca sobre fundo vermelho. A história é conhecida. Está aí para ser vista e reconhecida. Gerações de excelentes quadros políticos se formaram na militância de esquerda e, cedo ou tarde, acabaram passando por organizações clandestinas e pelas instâncias do PT, onde aprenderam quase tudo o que sabem. São gestores públicos, intelectuais, parlamentares, até mesmo jornalistas, veja você, alguns já passados dos 80 anos, outros ainda na casa dos 30, que conheceram o Brasil e seus excluídos desfraldando a bandeira vermelha com a estrela branca. Aprenderam política no PT. Nos movimentos sociais, aprenderam a solidariedade, a justiça, a disciplina, a ousadia. Depois, no exercício de cargos públicos, aprenderam que a competência técnica não pode esperar, conheceram os estilos de governança e o imperativo da conciliação. 
O PT alcançou o poder, abrandou o sectarismo e, mais maduro, ajudou então a moldar as próprias instituições da República, com acertos notórios. No Supremo Tribunal Federal (STF), hoje tão rigoroso e elogiado, a maioria dos atuais ministros foi indicada por governantes petistas. A Polícia Federal, hoje tão implacável e festejada, cresceu e se fortaleceu sob governos petistas. O Estado brasileiro está melhor, o que também é mérito da estrela branca sobre fundo vermelho. A despeito de um muxoxo aqui, de um nariz torcido acolá, todo mundo sabe disso. Os agentes políticos, os de direita e os de esquerda, têm plena noção de que o protagonista maior da evolução democrática pós-ditadura atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores. Só quem parece não estar à altura desse fato histórico é, ironicamente, o próprio PT. Com reações destemperadas, como que regurgitadas de uma adolescência que já passou, mostra que talvez não entenda bem o seu próprio papel e o seu próprio lugar. A pior dessas reações foi a conclamação de uma onda de manifestações públicas em protesto contra decisões do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão. É compreensível que muitos petistas se sintam indignados ao ver uma figura pública do porte de José Genoino condenada pelo crime de corrupção, e isso com o voto do ministro Dias Toffoli, o mesmo que, até outro dia, trabalhava para o partido da estrela. É compreensível, mas a indignação não autoriza ninguém a fazer comício contra o Supremo. Há canais legais para pedidos de reconsideração judicial. Se, em lugar de discutir o processo e seus eventuais erros tópicos, o PT ergue palanques para contestar a legitimidade da própria Corte, como se ela não passasse de um instrumento de perseguição partidária, estamos diante da ameaça de ruptura institucional. 
Nesse ponto, a postura da presidente Dilma Rousseff, de respeito declarado ao STF, contrasta com os arroubos irrefletidos - e serve para enquadrá-los. Dilma leva em conta que a mesma Corte que condenou uns absolveu outros, inclusive alguns militantes do PT. Logo, se devemos aceitar com um sorriso as absolvições, temos de acatar também as condenações e interpor os recursos que o direito processual admite. Fora disso, resta o tumulto. O PT parece não saber como agir. Vive um refluxo amargo, um atordoamento, embora siga acumulando vitórias eleitorais. Esta semana ficou ainda mais tonto. Foi apanhado no contrapé por outro cruzado de esquerda, com novas denúncias de corrupção. Uma investigação da Polícia Federal revelou irregularidades escabrosas comprometendo servidores públicos de alta patente no governo federal. O que fará o PT em seu inferno astral? Atos públicos? Vai acusar os policiais de sanha persecutória? Ou vai exigir mais transparência? Ou vai punir, pelo seu próprio estatuto, os filiados envolvidos? 
O PT precisa arcar com a responsabilidade de fortalecer a democracia que ajudou a conquistar. Eis o seu lugar e o seu papel. Se não enfrentar e sanar agora, já, os seus próprios desvios, o partido da estrela branca emoldurada de vermelho acabará por queimar sua reputação em praça pública. Será uma pena. A pior de todas as penas. 
* JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM  - Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo em 29/11/2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Vislumbre do pós-lulismo


José Eli da Veiga*
Cenários sobre o futuro do Brasil precisam se apoiar em boa interpretação dos "sentidos do lulismo," conforme a modesta expressão adotada por André Singer, professor de ciência política da USP, para título do excelente livro que coroou mais de 20 anos de pesquisas empíricas e teóricas sobre o tema.
O lulismo foi um "pulo do gato" consolidado por "ousadia". O pulo veio da opção preferencial por manter a ordem e driblar qualquer tipo de confronto com artilharias de capitalistas, com o objetivo de melhorar as condições de vida das camadas mais miseráveis da população, fortemente concentradas no Nordeste. A ousadia foi turbinar essa orientação sob o choque global de setembro de 2008, ao conclamar a população a "manter a confiança e comprar, arriscando-se a quebrar junto com os endividados".
Os dois movimentos foram confirmados nas eleições de 2006 e 2010. Primeiro os miseráveis substituíram as camadas médias que haviam prevalecido no "lulalá" de 2002, depois essa inversão foi até aprofundada com a votação de Dilma no Nordeste.
Esse ordeiro combate à miséria - essência da agenda lulista - já despontara de forma muito insipiente no segundo mandato de FHC. E só foi mesmo relançado a partir de setembro de 2003, com o descarte dos quase 2.400 "comitês gestores" do programa Fome Zero.
Daí ser das mais cativantes a descrição analítica proposta por André Singer do processo de adaptação do PT ao seu "condottiero". Um ótimo exemplo - mesmo que tardio, além de tropical - de como organizações políticas de anticapitalismo congênito evoluem com desconcertante rapidez ao reformismo gradualista por evitarem confrontos para conseguir governar. Reformismo que só pode ser tachado de "conservador," como faz o subtítulo do livro, na acepção mais tosca desse termo, a de não revolucionário.
Claro, debates infindáveis decorreriam de frágeis analogias históricas, de canhestras avaliações da era FHC, e até de alguns recursos a uma retórica só descodificável por leitores com séria formação marxista. Nada disso diminui, contudo, a extrema utilidade desse livro para exercícios especulativos sobre os desdobramentos do processo civilizador nestas paragens.
Tudo indica que a agenda lulista permanecerá imprescindível para muitos dos próximos governos, sejam quais forem as oscilações eleitorais. Pois, mesmo que melhore muito a qualidade do crescimento econômico, a efetiva miséria só se tornará comparável à de país desenvolvido lá por 2030, na melhor das hipóteses. Podendo se prolongar ao menos até 2060, caso sejam abalados os fundamentos materiais do lulismo, com destaque para o predatório desempenho do bloco agromineral exportador no aproveitamento das vantagens comparativas oferecidas pela abundância de recursos naturais.
O mais provável, portanto, é que o pós-lulismo - seja lá o que vier a ser - dificilmente surja antes de meados do século, a menos que seja antecipado por circunstâncias excepcionais.
Tais estimativas são necessárias para enfatizar que o ordeiro combate à miséria deverá se manter como importante componente programático de uns dez futuros governos. Isto é, que o sentido fundamental das políticas públicas revigoradas a partir de setembro de 2003 continuará a ser, em caso de alternâncias, dimensão programática básica de quaisquer outras coalizões governamentais.
A grande incógnita se refere ao eixo de uma agenda pós-miséria, a ser adotada quando começarem a surgir os sinais de seu arrefecimento. Talvez um foco explícito no combate às desigualdades, bem mais difícil de ser executado com dribles em setores economicamente dominantes, a começar pelos que estão fazendo a América nos mercados imobiliários (talvez até mais nos rurais que nos urbanos). Poderosos interesses patrimoniais serão ferozes obstáculos para que continuem a ser significativamente reduzidas desigualdades de renda, de acesso, e de oportunidades. Isto é, para que em algumas décadas os níveis de desigualdade do Brasil se aproximem dos de países como o Canadá, por exemplo.
O pior é que, além dessas resistências do patrimonialismo tupiniquim, tudo dependerá demais de fatores que nem podem ser domesticamente controlados. Mesmo na hipótese de que uma guerra nuclear continue a ser evitada, serão inviabilizados até os melhores projetos anti-miséria, quanto mais planos para a redução das desigualdades, caso não venha a ser organizada ainda nesta década uma efetiva governança multilateral do desenvolvimento sustentável.
É isso que escancara a crucial importância da política externa para a viabilização dos interesses nacionais. Se o Brasil persistir em alianças com potências das mais reticentes ao engajamento em favor da sustentabilidade (isto é: descarbonização, conservação da biodiversidade e recuperação do ciclo do nitrogênio), com certeza estará contribuindo para cavar sua própria cova, pois nada será mais sério contra uma plena realização do lulismo, do que a desordem global decorrente de um predomínio do negacionismo ecológico.
José Eli da Veiga, professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP) e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).Artigo originalmente publicado no jornal Valor Econômico - 20/11/2012. Página web: www.zeeli.pro.br 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Os recados de Eduardo Campos para Dilma


Valor Econômico - 05/12/2012
O governo baixou os juros, desvalorizou a taxa de câmbio, aumentou o gasto público, adotou medidas para diminuir custos de produção, reduziu impostos, abriu a concessão de serviços públicos ao setor privado, fez intervenções em alguns setores e, mesmo assim, a economia brasileira não reagiu. Os investimentos estão em terreno negativo há exatos dois anos e a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) registra média, na era Dilma, inferior à dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (2,47% ao ano), tão criticado pelo PT.
E agora? Aliado de primeira hora dos petistas, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), acha que, a exemplo do que ocorreu tanto na redemocratização quanto no processo de estabilização da economia e de redução da desigualdade social, o país precisa de um novo consenso. Este consenso é necessário não apenas para fazer a economia avançar mais rapidamente no curto prazo, mas também para posicionar o Brasil no pós-crise.
Campos vê a turbulência mundial em curso como um elemento perturbador, embora igualmente transformador. Ninguém sabe ao certo o que virá adiante, mas ele acredita que a crise obriga o país a repensar sua estratégia, o que, na visão do governador, não está sendo feito. Esse debate deveria ter ocorrido durante a eleição de 2010, quando o pior da primeira fase da crise havia passado.
Ativismo do governo gerou insegurança, diz governador de PE
"O processo eleitoral daquele período não favoreceu nem no empresariado nem nos partidos políticos nem na academia um debate que dissesse "olha, qual é a natureza desse novo ciclo que se inicia? Quais são exatamente os paradigmas, os valores? Qual é a nova pauta brasileira?", indaga Campos. "O fato é que estamos no século XXI com a pauta do século XX, metidos numa grande crise e tentando sair dela."
Na segunda-feira, durante debate promovido pelo Valor com a presença de empresários e do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), e do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (SP), Campos lembrou que, durante os ciclos históricos recentes, o país só avançou porque os líderes souberam construir consensos na sociedade. Foi assim na redemocratização (durante os últimos governos militares e os primeiros da era civil), no combate à inflação crônica (durante os governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso) e na diminuição da desigualdade (no governo Lula).
Aliado de Lula, Campos afirma que sua grande contribuição ao país foi "não mexer naquilo que efetivamente tinha sido a conquista brasileira [o fim da hiperinflação]" e, ao mesmo tempo, "emprestar ao país a sua colaboração no que consiste um olhar ao conjunto do Brasil real, do Brasil mais profundo". "Quando Lula assinou a Carta aos Brasileiros para dizer "muita calma nessa hora", foi para afirmar que era possível construir aquele passo sem dilapidar o que estava feito e construído ao longo desses anos, e nós estamos [agora] numa quadra assemelhada", observa o mandatário pernambucano.
Campos acha que, neste momento, a presidente Dilma deveria reunir as forças políticas - todas, inclusive da oposição - para construir um novo consenso. Ele reconhece que a presidente está tomando decisões difíceis para tentar acelerar o crescimento, mas o fato é que, passados dois anos, o ritmo está "muito aquém" do desejado. "Este é o momento de abrir um diálogo nacional sereno, objetivo, colaborativo na essência, para ganharmos o ano de 2013, porque dá para ganhar. Um diálogo em que todos vamos ter papéis importantes e o diálogo é a ferramenta para encontrar uma agenda que possa fazer uma grande aposta no investimento", defende.
Campos tem suas propostas. Ele acredita que o consumo não perdeu importância como motor do crescimento, mas não é suficiente para sustentar a expansão daqui em diante. O foco deve ser o investimento. O governador sugere que o governo tome duas decisões nessa área: desconcentrar o investimento público e estabelecer marcos regulatórios.
Campos diz que a Constituição de 1988 desconcentrou recursos para Estados e municípios, mas que o ambiente econômico conturbado daquela época provocou a reconcentração - aprovaram-se mais de 28 emendas à Carta Magna desde então. "O constituinte de 88 refletiu movimento pendular da história republicana: quando há democracia, desconcentra-se poder; quando não tem, concentra-se", observa.
A tese de Campos é que, uma vez superada a crise fiscal do Estado, chegou a hora de desconcentrar poder para fortalecer a Federação, afinal, quem conhece melhor as necessidades de investimento do país são governadores e prefeitos. "Todas as prioridades do Brasil não estão nem conseguem ser colocadas nos PACs que foram lançados", critica ele.
Não há mais razão também para manter a desconfiança, disseminada no pós-88, quanto aos padrões de governança estaduais e municipais. "O processo histórico nos legou um padrão na gestão regional e de municípios que daqui a pouco vai se transformar quase que num pressuposto. Não vai ter mais na política quem vá disputar um mandato que não tenha condição de fazer uma governança que escute a sociedade, mas que use ferramentas que os senhores [os empresários] usam na gestão de grandes empresas e que são fundamentais, como remuneração variável, metas de desempenho etc."
Campos engrossa o coro dos que acham que o ativismo do governo Dilma na macro e na microeconomia está assustando empresários, a ponto de provocar adiamento de investimentos. "Sei do compromisso da presidente em honrar contratos, [mas] muitas mexidas a um só tempo num conjunto de setores terminaram por gerar impressão de que é preciso esperar pelos [novos] marcos, o que provocou uma certa insegurança de uma série de atores, algo negativo numa hora como essa."
O político pernambucano assegura que não pretende "eleitoralizar" o momento atual. Ele não é, neste momento, candidato à sucessão de Dilma, mas sugere que, se nada for feito e, em 2013, a economia não se recuperar, a conversa será outra. "O grande desafio neste momento é o de compreender que esta é a hora. Temos o primeiro semestre de 2013 para ganhar essa disputa, mas aí todo mundo tem que jogar de forma organizada, tem que ter uma estratégia dessa construção da travessia", diz ele.
Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras

terça-feira, 20 de novembro de 2012

PSB - Opção efetiva em 2014


Raymundo Costa e Raquel Ulhôa | Valor Econômico / Brasília
Em 1985, o PSB elegeu um único prefeito. O do Recife, Jarbas Vasconcelos, hoje senador dissidente no PMDB. Este ano, elegeu 443, vai governar cerca de 15,3 milhões e administrar um orçamento de R$ 22,2 bilhões apenas nas cinco capitais nas quais saiu vitorioso - Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho. Além disso, a sigla reelegeu 71% de seus prefeitos, um índice bem maior que os 55% da média nacional. Em 2008, o partido obteve nas eleições municipais 5,6 milhões de votos. Neste ano, 8,5 milhões digitaram o número 40 nas urnas eletrônicas, ou seja, o PSB teve um crescimento de 51,6% de eleitorado.
À esquerda, o PSB já é uma alternativa ao PT e dispõe até de um presidenciável, Eduardo Campos, o governador mais bem avaliado do país. Qual a receita do sucesso? O próprio Eduardo, governador de Pernambuco e presidente nacional do partido, arrisca uma explicação: "Somos um partido com unidade, propostas, bons quadros e que, quando governamos, mantemos o discurso e envolvemos o povo na gestão."
Na realidade, o PSB se tornou protagonista depois que Eduardo Campos assumiu sua presidência. Tornou-se um partido profissional, tem uma fundação funcionando em sede própria e estabeleceu critérios para filiações. "Não damos esse valor à filiação cartorial, ela é pouco representativa", diz Carlos Siqueira, secretário-executivo. "Não adianta ter 1 milhão de filiados que nem sabem o que é o partido, a nossa preferência é filiação seletiva".
O PSB tem mais de 500 mil filiados. Cada um deles com carteirinha (tipo cartão de crédito) e um número nacional. Os candidatos recebem cursos para fazer a campanha e, uma vez eleito, cursos de gestão, todos patrocinados pela Fundação João Mangabeira. O partido também ensina seus prefeitos como fazer um projeto e encaminhá-lo para o governo federal - a falta de bons projetos é um dos argumentos do Ministério do Planejamento para o não atendimento de recursos para municípios.
O vice-presidente Roberto Amaral enumera três possíveis razões para o crescimento do PSB. O primeiro é que o partido se preparou para a eleição. O segundo "o reconhecimento da nossa coerência: o PT não foi prejudicado pelo mensalão [nas eleições], mas nós fomos beneficiados", diz Amaral. A terceira é a conjugação de duas coisas: "Fixamos na população a ideia do novo e a eficiência administrativa dos nossos governos."
Amaral não está contando vantagem: no ranking dos governadores do Datafolha, Eduardo Campos aparece como o governador mais bem aprovado do país. O próprio Campos recebeu da ONU, em Nova York, o Prêmio das Nações Unidas de Serviço Público. É o UNPSA, considerado uma espécie de "Oscar" da gestão pública mundial. Na quinta-feira a presidente Dilma Rousseff homenageou o governador do Ceará, Cid Gomes, por um programa que ele desenvolve no Estado chamado "Pacto Nacional pela Educação na Idade Certa". O ministro Aloizio Mercadante (Educação) já cogita expandir pelo país a experiência cearense.
Aliás, as gestões do PSB vão bem, quando o assunto é educação: o município de Carnaíba, em Pernambuco, tirou o 1º lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Outro caso de sucesso é a aprovação do prefeito de Minas Gerais, Marcio Lacerda, reeleito no primeiro turno. É a maior prefeitura governada pelo partido, com um orçamento de R$ 9,9 bilhões. No caso mineiro, os dirigentes pessebistas reconhecem que se trata de uma sucessão de boas administrações: começou com Patrus Ananias (PT), tendo Célio de Castro (PSB) como vice. Na sucessão de Patrus, o PT resolveu lançar um candidato próprio, apesar de haver um acerto de que o partido apoiaria seu vice. Célio enfrentou e ganhou do candidato do PT tendo um nome do PMDB como vice. Na reeleição, a chapa já tinha o hoje ministro Fernando Pimentel (PT) como vice. Com a morte de Célio de Castro ele assumiu o cargo e deixou a prefeitura reconhecido como bom gestor e ótimo índice de aprovação.
Os gestores do PSB são estimulados pela direção e nos encontros para troca de experiências a estabelecer metas. Um dos méritos atribuído a Eduardo Campos é ter contratado uma fundação privada para buscar um modelo para a educação e a saúde. Segundo o secretário-executivo Siqueira, o PSB também não "aparelha" as administrações que conquista. "Acho que a participação dos partidos é natural mas tem que ser com gente que tenha perfil correspondente para a área". Do contrário, "Nós continuamos desqualificando a atividade política", diz.
Existe orientação do partido de que a melhor forma de valorizar a política é qualificar a atividade político administrativa. "Se você não qualifica e mistura partidarização e administração, cai fatalmente no convencional e no resultado sem expressão. Negativo até", argumenta Siqueira.
Apesar de ostentar a palavra socialista na sigla, o PSB não é um partido estatizante, como demonstram as ações em conjunto com a iniciativa privada em Pernambuco. Ou o apoio que deu a candidatos do DEM em Maceió (AL), e ao PSDB em Belém (PA). Mas também exerce um certo "centralismo", em geral por meio da Comissão Executiva Nacional, muito embora Eduardo Campos tenha o controle efetivo do partido.
O PSB, por exemplo, não tolera correntes, facções ou tendências, como acontece no PT. Criado em 1947, o PSB foi extinto pelo regime militar de 1964. A refundação veio com a redemocratização, em 1985. Um grupo que saiu do PMDB tentou uma participação autônoma e foi convidado a sair. O mesmo ocorreu com Arthur Virgílio, prefeito eleito de Manaus, que em 1989 apoiou a candidatura de Mário Covas (PSDB) contra a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, recomendada pela direção partidária.
Outro caso exemplo é o de Anthony Garotinho, o ex-governador do Rio de Janeiro que em 2002 disputou a Presidência pelo PSB. Ele tentou organizar uma corrente própria. O PSB fez um recadastramento e excluiu o seu candidato de seus quadros. Atualmente, o PSB vive uma situação parecida, no Ceará, com o clã Ferreira Gomes, os irmãos Ciro e Cid. Fala-se na cúpula do PSB que Ciro está sondando e sendo sondado por outros partidos.
O PSB, definitivamente, deixou de ser caudatário do PT e passou a ser uma opção efetiva, à esquerda, ao Partido dos Trabalhadores. Aos poucos, o partido está entrando em cidades do Sudeste do porte de São José do Rio Preto e Campinas, Duque de Caxias, Petrópolis e Uberaba. No Sul, perdeu Curitiba (PR). E era uma disputa à reeleição. E tem um nome à mão para presidente da República: Eduardo Campos.
"Se não for [candidato a presidente] vai ser uma grande besteira", acredita Siqueira. "Ele foi eleito governador com 41 anos, vai sair com 49, administração muito bem sucedida. Tem um partido político que lidera com hegemonia muito grande. Se ele quiser ser candidato, será. O partido apoiará. Por que não ser, se a eleição é em dois turnos". Um erro não só em relação à candidatura de Eduardo, mas também para o crescimento e consolidação do PSB. "Sempre que o PSB abriu mão ter candidato próprio foi para prejuízo dele".

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O fator PSB


Eliane Castanhede* O PT ganhou a joia da coroa, São Paulo, mas levou a pior ao bater de frente com o PSB em Recife e Belo Horizonte, no primeiro turno, e em Fortaleza e Cuiabá, no segundo. Sem falar em Campinas.
É assim, batendo o PT, avançando no Nordeste, conquistando espaço no Sudeste e com o troféu de principal vencedor nas cem cidades mais pobres, que o PSB se consolida como força política relevante no país. Com a vantagem de ser simultaneamente aliado do governo Dilma e interlocutor dileto da oposição.
Ou seja: o PSB e seu grande líder, o governador Eduardo Campos (PE), mantêm as vantagens e luxos de quem está casado com o poder, mas já se preparando para fazer o inverso do PSD de Kassab: trair o PT com o amante PSDB. Possivelmente, não ainda em 2014, mas já em 2018. Tudo é questão de oportunidade.
O PT é uma faca de dois gumes: aliado conveniente porque detém o Planalto --e a caneta, os cargos, as verbas, a popularidade--, mas profundamente inconveniente para os que almejam o poder. Sabe quando o PT vai abrir mão da cabeça de chapa para o PSB, o PMDB, o PC do B ou qualquer outro? Nunca.
Já o PSDB é um aliado excelente, porque é o partido mais forte da oposição e está cada vez mais fraco. Aos 70 anos, Serra, derrotado para a Prefeitura de São Paulo e com alta rejeição dentro e fora do partido, não tem mais vez. Alckmin já não deu para o gasto em 2006. E Aécio, hibernando no Senado, é uma incógnita.
Sem os três, não sobra ninguém no PSDB e na oposição que seja ao menos visível a olho nu para 2014 e 2018. É esse espólio que Eduardo Campos trabalha e cobiça.
Quando Aécio e Campos se abraçam e despejam milhares de pulgas atrás das orelhas de Lula, Dilma, Serra e Alckmin, o mineiro se sente esperto como o avô Tancredo, imaginando que é ele quem vai colher os frutos. Há controvérsias. Não é Campos quem faz o jogo de Aécio, é Aécio quem está fazendo o jogo de Campos.
*Colunista do jornal Folha de São Paulo

domingo, 16 de setembro de 2012

Diminuição das Desigualdades

Lídice da Mata* 
De acordo com o relatório das Nações Unidas sobre as cidades latino-americanas lançado recentemente, ficou claro que muitos são os desafios a serem superados no tocante a diminuição das desigualdades sociais no Brasil; apesar de já se ter uma significativa mudança, no cenário destes indicadores; sendo um dos mais importantes o avanço da renda dos mais pobres que teve um crescimento de 70%. Este indicador do aumento da renda entre os mais pobres nos chama a uma importante reflexão sobre as políticas implantadas no Brasil e revela a preocupação do governo em busca de um desenvolvimento mais equilibrado, menos excludente e melhor equacionado regionalmente. A realidade nos mostra que as ações dos governos, antes de qualquer coisa, deve se motivar em busca de induzir o desenvolvimento social com foco na distribuição de renda, no combate à fome e na promoção da inclusão social. E é isso o que o Governo Federal em total articulação com o Governo do Estado da Bahia faz ao investir e apoiar programas como o Brasil Carinhoso que é uma das estratégias do Brasil Sem Miséria e que busca a redução da extrema pobreza entre as crianças. Nos dois primeiros meses de implantação já retirou 2,7 milhões de famílias da situação de extrema pobreza e representou um investimento de R$ 169,8 milhões sendo a região mais beneficiada o Nordeste. Ainda entre as ações deste programa, está o aumento da oferta de vagas em creches públicas e conveniadas tendo o Estado da Bahia sido contemplado com a construção de 139 creches em 82 municípios. Na área de segurança alimentar, nutricional e combate à fome, o governo vem apoiando ações que visam organizar sistemas locais de segurança alimentar e combate ao desperdício, com a construção de novos bancos de alimentos onde estes gêneros alimentícios – sem valor comercial, mas com valor nutricional serão processados e doados a entidades socioassistenciais que oferecem alimentação a pessoas em situação de insegurança alimentar, além de abastecer cozinhas comunitárias, restaurantes populares e unidades escolares. Para esta ação serão investidos R$ 20,5 milhões. Na Bahia dois municípios serão beneficiados com este programa: Feira de Santana e Camaçari. Buscando a implementação de uma política de inclusão produtiva aos agricultores e apoiar famílias a produzir mais, melhor e com assistência técnica e a comercializar seus produtos, estão sendo implantados em vários municípios o projeto das Unidades de Aprendizagem através de uma parceria do Governo do Estado da Bahia com a Embrapa e que busca a inclusão de novas tecnologias que auxiliem no aumento da produção e da rentabilidade, além de ações de capacitação e formação nas áreas de apicultura, caprinocultura e mamonocultura. A estimativa é de que 3,6 mil famílias sejam atendidas. Vale lembrar também, as estratégias articuladas entre Governo Federal e Estadual de enfrentamento dos impactos causados pela estiagem buscando a redução da vulnerabilidade das populações e atenuar os efeitos da seca sobre a dinâmica familiar e produtiva com as ações emergenciais de enfrentamento dos efeitos da seca no semiárido baiano como a construção de 27 mil cisternas, a antecipação do pagamento do Garantia Safra em 126 municípios com um total de 85 mil beneficiários e o Bolsa Estiagem que já beneficiou 66.864 pessoas em 138 municípios. Os números estão aí, para os que se interessem em conferi-los. Não há dúvida de que ainda é preciso avançar nos indicadores de desenvolvimento humano e social, combatendo discrepâncias seculares e abrindo novas perspectivas para os cidadãos brasileiros e baianos. Porém, os resultados indicam que os passos têm sido dados na trilha certa. Governos, municípios e sociedade têm o desafio de ajustar rotas e acelerar o ritmo do crescimento econômico em sintonia com o desenvolvimento social tornado o país cada vez mais justo. 
*Lídice da Mata ,enadora, eleita pelo PSB/BA
**Artigo publicado no jornal A Tarde de 12/09/2012

sábado, 15 de setembro de 2012

Ação Penal 470 e a desconfiança de ainda existir outros mensalões

Tadeu Fernandes* O Supremo Tribunal Federal está julgando a Ação Penal 470, mas conhecida como “mensalão”. A população acompanha o julgamento, mas são tantas as acusações e justificativas que muitos ficam confusos. Só para relembrar: Desde 2005, no governo Lula, que se arrasta uma denúncia de que lideranças do PT e do governo federal estavam corrompendo líderes de outros partidos, usando muitos milhões desviados dos cofres públicos. O delator foi o então deputado federal Roberto Jeferson, que admitiu ter recebido 4 milhões de reais, acusando José Dirceu, Chefe da Casa Civil de Lula, o ex-presidente e o ex-tesoureiro do PT, José Genuíno e Delúbio Soares, respectivamente e Marcos Valério, dono de empresa de publicidade com contratos com o governo federal, de serem os “cabeças” de um esquema de corrupção para compra de apoio de diversos partidos ao governo Lula. A Procuradoria Geral da República investigou o caso e denunciou 38 “figurões” ao STF por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e peculato. As defesas dos acusados, resumidamente, assumem que receberam valores altos dessas autoridades para pagar dívidas de campanha, na forma de “caixa 2” / dinheiro não contabilizado. Quem está mentindo? Bom, os onze ministros do STF irão julgar e só depois do julgamento é que ficaremos sabendo. Todavia, alguns fatos gravíssimos estão provados e confessados, o que nos permite chegar a certas conclusões antecipadamente. Está provado que dirigentes do PT federal e do governo Lula, junto com o dono de uma empresa de publicidade contratada pelo governo federal, distribuíram muitos milhões de reais a dirigentes e deputados de outros partidos. Está provado que foi dinheiro de verba de publicidade do governo federal. Está provado, portanto, a origem do dinheiro, quem pagou e quem recebeu. Falta provar apenas a finalidade: se foi para corromper ou se foi para pagar dívidas de campanha. Convenhamos: é irrelevante para a sociedade a finalidade desse esquema. O fato é que dinheiro público foi usado, como “Caixa 2”, para abastecer os cofres de alguns partidos. O motivo só interessa à Justiça. Para nós, cidadãos, o que importa é que dinheiro fez falta à educação, saúde, segurança pública, aeroportos, portos, rodovias. Não quero ser leviano, mas toda vez que vejo governos gastando milhões com publicidade, fico desconfiado que exista algum “mensalão” por trás. Não quero ser preconceituoso, mas toda vez que vejo uma campanha com uma grande coligação de partidos aliados ao governo, desconfio, só desconfio, que tem verba de publicidade envolvida na atração de alguns partidos. Suspeito, só suspeito, que esse “mensalão” continua espalhado pelo Brasil inteiro e vem de longas datas, mudando apenas as moscas, mas o bolo sempre foi o mesmo: verba de publicidade! * Deputado estadual baiano pelo PSB Capitão Tadeu Fernandes

terça-feira, 10 de julho de 2012

Dilma recebe Eduardo Campos e reafirmam projeto nacional


 A presidente Dilma Rousseff defendeu, na noite desta segunda-feira, que as divergências entre o PT e o PSB nas eleições municipais não podem contaminar o governo federal. Dilma recebeu os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, e do Ceará, Cid Gomes, para tratar dos problemas políticos que levaram ao racha entre os dois partidos em importantes capitais como Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Foram três horas de conversa, com a participação também do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
- Não conseguimos chegar a uma conclusão de onde começou (a divergência entre PT e PSB). Temos queixas de todos os lados. Onde não fizemos alianças, vai haver disputa eleitoral. Agora, eu repito - a presidente disse muito bem - não confundir uma eleição municipal com um projeto nacional, onde somos aliados e estamos do mesmo lado há muito tempo. Na conversa, todos reafirmamos o nosso desejo de permanecer assim - afirmou o petista Paulo Bernardo.
Segundo Paulo Bernardo, a avaliação na reunião foi que a aliança nacional entre PT e PSB "se sobrepõe a qualquer questão local". Para o ministro, os municípios onde os dois partidos não conseguiram fazer coligação são uma minoria.
- Achamos que é importante que essas disputas locais sejam circunscritas, sejam tratadas como eleições municipais. Ou seja não vamos misturar eleições municipais com um projeto maior onde todos nos colocamos de acordo - afirmou Paulo Bernardo.
Ele disse que Eduardo Campos, Cid Gomes e Dilma "reafirmaram a importância de manter um projeto comum no plano nacional". Logo em seguida, Eduardo Campos concordou:
- Não vamos trazer de forma nenhuma para o plano nacional ou o plano estadual as divergências de um município aqui e outro acolá.
O governador afirmou que o PSB vai continuar apoaindo o governo Dilma, mas sem submissão. Segundo Eduardo Campos, a prioridade do partido é manter a aliança nacional com a presidente.
- O PSB nunca foi um partido de barganha, não. Crescemos fazendo política com coerência, com lealdade, mas sem submissão - afirmou.
Diante de avaliações de que a movimentação do PSB visa o fortalecimento do nome de Eduardo Campos para a sucessão presidencial em 2014, o governador disse que o projeto do partido é apoiar a reeleição de Dilma.
- Não interessa ao PSB nem a presidente Dilma criar qualquer crise ou dificuldade. Temos muito claro, e a presidente tem muito claro, que o PSB é um aliado de primeira hora, é um aliado correto que traz conteúdo positivo para o governo. Temos claro que o nosso objetivo é ajudá-la a fazer um grande mandato para poder ser candidata em 2014 com apoio do PSB - afirmou.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Lídice : PSB sonha com candidatura própria em 2014



Bahia Notícias – O PSB já deve ter todo o planejamento para a campanha deste ano. Quais são as principais metas do partido para 2012?
Lídice da Mata – Todo o planejamento da campanha não. Essa campanha está tendo uma característica muito singular, demorou muito de engrenar as composições partidárias, da cidade menor à cidade maior, e no Brasil inteiro. Você veja que as capitais brasileiras praticamente se resolveram na última semana e olha a confusão que deu em Recife, em Fortaleza, em Belo Horizonte, aqui – a  semana de decisão foi a última semana, então isso tem consequências sobre o planejamento do partido. Nos últimos dias eu recebi telefonemas do estado inteiro, lugares onde mudou o planejamento. Vamos fazer um encontro com todos os candidatos. Provavelmente convidaremos, como convidamos o ano passado, o governador Jaques Wagner para tirar foto. Em alguns lugares onde não há uma disputa na base, não tem problema. Os nossos candidatos terão foto com o governador e os outros também terão. O nosso desejo é fazer o máximo de prefeitos no interior que nós pudermos fazer, já que na capital nós estamos com Nelson [Pelegrino] e o nosso centro de atuação vai ser a chapa proporcional. Nas quatro últimas eleições o PSB tem conseguido eleger pelo menos um vereador. Tivemos circunstâncias ruins porque elegemos dois até, Nelton e Tadeu, mas Tadeu virou deputado e Nelton morreu, então acabou ficando sem nenhum. Em 2008 teve [Laudelino] Lau e [Orlando] Palhinha que infelizmente não corresponderam à expectativa do partido, nem nós a deles, então se desfez essa relação [ambos foram para o PP]. Nossa grande expectativa é que nessa eleição a gente consiga acertar o passo e eleger dois vereadores e quem sabe desses dois sair algum candidato a deputado estadual na próxima eleição. 
BN – O nome mais forte seria o de Fabíola Mansur?
LM – Acho que tem Fabíola e tem Samuel como dois candidatos que já foram aprovados nas urnas. Samuel teve mais de 5 mil votos em Salvador em uma candidatura de vereador, que é uma candidatura mais difícil do que a de deputado porque a disputa é mais acirrada. A candidatura de vereador é uma disputa de casa em casa, de rua em rua, de bairro em bairro, de segmento por segmento. Então, ela é uma disputa mais difícil. A candidatura de deputado, na cidade, é mais ampla. Tanto que nosso cálculo sempre é pela metade. Se um candidato teve 16 mil votos para deputado em Salvador, cortamos pela metade caso ele seja vereador – em vez de 16, oito. É mais ou menos o cálculo que todos os partidos fazem. Se ele teve 5 mil votos para vereador, tem potencial de chegar a 10 mil se deputado fosse. Mas além desses dois, que são os chamados provados nas urnas, nós temos algumas candidaturas que temos grande esperança de que surpreendam o quadro político da cidade pela consistência que vêem trabalhando nesses quatro últimos anos. O PSB em Salvador passa por esse processo de renovação de lideranças, que é também por outro lado a nossa perspectiva para 2014, de a gente dar uma renovada nos quadros do partido. 
BN – O PSB vai sair sozinho na chapa?
LM – Na chapa nós vamos sair com o PPL, Partido Pátria Livre. 
BN – Hoje o PSB tem quantos vereadores  na Bahia, no total?
LM – É muita coisa nas cidades do interior, mais de 60.
BN – Prefeitos também?
LM – Prefeitos nós temos 16, aí é mais fácil. 
BN – A meta é chegar até quanto?
LM – A meta é pelo menos dobrar o que nós temos hoje, chegarmos a 32. Mas eu acho que nós vamos passar disso. Vamos disputar em cidades importantes do estado, como Paulo Afonso, Santo Antônio de Jesus, Seabra, Porto Seguro. Nós temos, dentre as 35 cidades, pelo menos quatro. Tem Candeias, com Isidório. São pelo menos cinco cidades de importância onde o PSB disputa, e com muitas chances de ganhar. Em Santo Antônio de Jesus ainda bem que é uma mulher, eu prezo muito pelas candidaturas femininas. Nós temos candidatura de mulher em Santo Antônio de Jesus, em Amargosa – em uma situação totalmente nova, porque lá nós tínhamos uma aliança histórica com o PT, que nos fez vencedor em duas eleições e infelizmente ou felizmente os companheiros do partido agora não conseguiram se entender e nós vamos ter uma chapa outra. No risco, porque o candidato do prefeito certamente conta com uma vantagem da máquina, mas nós vamos na ousadia de firmar novos espaços políticos.
BN – Esses espaços políticos têm sido debatidos no Brasil inteiro. Inclusive Ciro Gomes essa semana disse que o plano do PT era aniquilar os partidos parceiros. Na falta de entendimento em Belo Horizonte acabou cada um saindo com um nome e há uma perspectiva de rompimento entre o PSB e PT. A senhora, como membro do PSB, avalia como esse momento de uma possível crise na relação do partido?
LM – Eu não acho que há um plano de aniquilamento do PT para com as outras forças. Não há uma coisa racional nessa direção. Eu acho que há uma postura do PT, como maior partido de esquerda, de uma tendência a um exclusivismo na sua referência. Talvez uma falta de prática do PT na construção de frentes políticas amplas. O PT cresceu sob a liderança de uma frente política que já tinha definido o líder Lula, aí é mais fácil de se arrumar as coisas. Outra coisa é você ir construindo essa frente por baixo. Eu acho que isso se reflete em algumas dificuldades. Depois, o PT se constituiu, ele próprio, como um partido de frentes de correntes políticas de esquerda e isso também tem sua fase de esgotamento, quando você está no poder. Até porque, termina que ficam muitos PTs falando sem que você possa ter um único PT a falar em uma posição que possa incorporar a posição de todos. O que aconteceu em Recife, por exemplo, não é um problema do PSB, foi um problema do PT. O PT se dividiu. Havia uma grande dificuldade do apoio do ex-prefeito para o atual prefeito, de outras correntes políticas para o atual prefeito e vice-versa. Houve uma preocupação grande do governador, como líder do processo político no estado, que acompanhou de perto isso. O seu secretário de governo, que era um grande quadro e respeitável quadro político da esquerda, sentiu que tinha o apoio de outras lideranças nacionalmente e disputou internamente, se sentiu levado a uma posição que ele denunciou como fraude no processo eleitoral. Quando Humberto foi lançado candidato houve manifestação do PT na sua porta, agredindo e ameaçando. Então, o que Eduardo previu foi uma divisão que levasse a uma impossibilidade de se coordenar a campanha a uma vitória. Por isso ele retirou antes. Não foi nenhuma decisão que Lula não tivesse conhecimento. Ele já tinha anunciado a Lula e à presidência do PT que se até a última hora sentisse que não ia ter jeito ele teria que dar um jeito, e foi isso que ele fez. E obviamente na hora que ele faz, ele vai tentar ganhar, mas sem ofensas, sem agressões. Vai tentar conduzir para uma vitória que permita com que o projeto possa continuar vitorioso dentro da cidade de Recife, que é uma cidade fundamental para que o projeto político da esquerda se consolide no estado de Pernambuco. Na Bahia nós não tivemos isso, porque nós temos uma situação diferente de outros estados. Passamos anos em uma luta política entre o carlismo e o anticarlismo. A superação disso se dá sob a liderança de um líder apaziguador, que é Jaques Wagner. As forças políticas conseguiram ter grande confiança nele exatamente por essa característica. E ele consegue, também com essa postura, apaziguar o PT e suas divergências internas. Por enquanto estamos dessa maneira e eu acho que isso foi bom para a Bahia. O PSB, com a responsabilidade que tem nesse processo político, compreendeu que para contribuir na consolidação do projeto deveria retirar a possibilidade de eu ser candidata e apoiar Nelson para construir um projeto de futuro mais adiante.
BN – Mas ai, dentro dessa calmaria que Wagner conseguiu consolidar, assim como em torno da candidatura de Fernando Haddad lá em São Paulo – que Lula trouxe o Paulo Maluf, do PP, na aliança – tem um adversário histórico da senadora Lídice da Mata dentro da mesma chapa, já que o PR agregou a candidatura de Nelson Pelegrino. A senhora vai antes sondar se César Borges vai estar no mesmo palanque para não ir ou vai enfrentar isso tranquilamente? 
LM – César Borges não é meu adversário histórico, aliás, César Borges nunca foi um líder central, sem nenhum demérito a ele. Ele era um personagem do carlismo. O líder central era Antônio Carlos (Magalhães). Quem era meu adversário histórico foi ACM, não César Borges. Eu não tenho dificuldade com ele, pessoal, absolutamente nenhuma. Alguns dizem que foi uma disputa, porque ele perdeu uma eleição para mim. Eu não acho isso. Eu acho que ele perdeu a eleição para mim e para Pinheiro, não fui eu quem tirou ele, fomos nós, eu e Pinheiro. Foi um projeto político. Talvez ele seja mais responsável pela derrota dele do que nós, porque ele já estava convidado e tinha as portas abertas para entrar na chapa com a minha aprovação, inclusive. Talvez ele fosse o meu parceiro na chapa, porque o meu lugar já estava mais ou menos acertado.
BN – Pinheiro foi colocado de última hora.
LM – De última hora, até. Alguns dizem isso, que o PT ia concentrar, como concentrou, na candidatura de Pinheiro. Mas eu acreditei no projeto político e tive confiança na liderança apaziguadora do governador Jaques Wagner, que cumpriu o seu compromisso com as forças de esquerda da Bahia. E quando eu digo apaziguadora não quer dizer calmaria, porque não quer dizer que nós estejamos todos calmos e sem disputas. As disputas continuarão acontecendo. No entanto há uma liderança, e a liderança se exerce exatamente pela capacidade de encontrar um ponto de unidade entre as diversas forças e nos conduzir a um objetivo comum. Foi isso que Wagner mais uma vez demonstrou ter capacidade de fazer. Eu acho que nesse aspecto a Bahia está bem resolvida. O processo para 2014 é outro processo. Como diz o povo, aí é outra história. Tem que sentar todo mundo para voltar a combinar o jogo. 
BN – Para 2014, o Antonio Carlos Tramm, que era secretário do Turismo e dirigente do PSB e hoje está na Codeba, anunciou que o projeto do partido é Pelegrino em 2012 e Lídice em 2014. É o ano em que o governador Jaques Wagner sai de cena e já tem vários petistas que querem ocupar o lugar. Se for necessário, o PSB rompe com o PT aqui para colocar em prática esse projeto?
LM - Eu acho que 2014 a gente discute em 2014. O que o PSB fez, e tem legitimidade em fazer, é ter o desejo de dizer que quer me ver candidata. Se isso vai acontecer, a vida vai dizer. De que forma vai acontecer, é também a vida que vai dizer. O que vai acontecer é o que for possível. O que eu acho é que o PSB tem o direito de pensar e de sonhar que nós podemos ter uma candidatura para o governo do Estado, seja minha ou de outro do partido. Alguns acham que deve ser a minha. Eu acho que isso é que é o entendimento do que é um projeto de frente e isso eu tenho dito repetidamente a muitos companheiros, até prefeitos do interior, sejam do PSB ou do PT. Quando se fala no projeto, embora se fale no nome de um coletivo, muitas vezes fica como se fosse um projeto pessoal. Então o companheiro tem o apoio de todos os partidos para ser prefeito, mas quer governar do seu modo e quer ter o seu, de confiança pessoal, para dar continuidade ao projeto. E não o da confiança do coletivo, que pode ou não ser do partido dele. Esse é um vezo da política conservadora, que tem vínculos e enraizamentos profundos na política brasileira, que é uma política que tem os seus pilares no personalismo. Isso ocorre com a direita e com a esquerda. Com a direita a expressão maior foi Antônio Carlos [Magalhães], na Bahia, mas na esquerda também ocorre. O que mais a gente tem visto nesse interior todo é esse tipo de comportamento. As pessoas tendem a repetir o posicionamento do seu líder maior. No interior isso é comum, porque se o governo é assim, isso se repetia. Algumas pessoas queriam parecer com Antônio Carlos. O maior elogio que se podia fazer era dizer ‘esse é o Antônio Carlos do nosso município’. 
BN - Tanto que quando acabou o processo do carlismo, com a vitória de Wagner, em 2006, se falava muito isso, 'quem vai ser o próximo ACM na Bahia?'...
LM - Pois é, é Wagner está mostrando que não precisa ser ACM para governar o estado. Não precisa a repetição desse método. Lula também demonstrou que é possível fazer com outro método, embora no Brasil a gente não tivesse nenhum grande depois da ditadura militar. Não tivemos a experiência de um líder carismático, com essa característica dos líderes após a Segunda Guerra, o que é também típico de momentos históricos de muita tensão. Eu acho que estamos vivendo um novo momento no Brasil, na Bahia também. E aqui o plano número 1 do PSB é 2012. É pensar como nós vamos sair vitoriosos em 2012, ajudando o projeto liderado pelo governador Jaques Wagner para sermos vitoriosos no estado. Tendo o maior número de vitórias de prefeituras e formando uma boa chapa de vereadores. Para nós não importa apenas crescer. Nós queremos crescer, mas a gente sabe que isso é um movimento dialético. Nós precisamos crescer e gerar qualidade no nosso crescimento. Crescer e agregar cada vez mais líderes políticos ao nosso projeto, que é um projeto democrático e de fundação de novos valores na política no estado da Bahia.
BN - A oposição se utiliza do PSB de uma forma que nem o PSB da Bahia se utiliza para criticar o governo Wagner. A toda hora a gente vê deputados de oposição a traçar comparações entre o governo de Eduardo Campos e o de Jaques Wagner para mostrar que aqui se avança muito menos do que eles acham que se deveria avançar. A senhora, como presidente do PSB, acha que Wagner deveria se espelhar mais em Eduardo Campos ou acha que o governo tem feito o que é possível ser feito?
LM - Não tem comparação, a história política da Bahia é uma, a história política de Pernambuco é outra. Os desafios do nosso estado são bastante diferente dos de Pernambuco. Nós somos um estado duas vezes maior do que Pernambuco em dimensão territorial, com quase 70% do nosso território no semiárido – tanto que o nosso desafio da superação da pobreza é extraordinário. Além disso, Pernambuco em sua história nunca teve um ACM. Nunca teve uma liderança com essa característica, marcando a história política, nem na ditadura militar. Nesse aspecto, os pernambucanos demonstram uma civilidade maior em sua história. A história de Recife é completamente diferente, administrativa e politicamente, da de Salvador. Em Salvador, nos últimos anos de ditadura militar, tivemos dez prefeitos. Foi um por ano. Recife não. Recife teve uma tradição de boas administrações. Eduardo tem experiências muito positivas, que o nosso governo pode e deve discutir e compartilhar, como Wagner tem experiências extremamente positivas e que Eduardo pode e deve compartilhar, procurar realizar igualmente. São coisas diferentes. Agora, isso é um jogo da oposição. A oposição não tem mais nada a fazer, foi reduzida a pó no estado, e tem então que inventar uma referência. Da nossa parte, que esteja divulgando o nome do nosso governador e presidente do partido, ótimo. Agora nós não somos nem ingênuos nem crianças para cair nesse jogo. Nós sabemos que esse é um jogo político primário e não vamos nos submeter.
BN - Mas cá entre nós, o PSB não acha que teria a oportunidade de fazer muito mais se tivesse mais espaço, já que ele só tem a Secretaria de Turismo com Domingos Leonelli? 
LM - Claro, qualquer partido pensa isso. Nós temos, no entanto, convicção de que a nossa secretaria, independentemente do espaço, é uma secretaria que honra a nossa posição socialista. O nosso secretário é competente, extremamente sério, trabalhador e tem dado resultados concretos ao governo de Jaques Wagner. Se essa referência servir para que o governador ache que nós devemos ter mais espaço, nós queremos que isso seja levado em conta, é óbvio.
BN - Dois mil e quatorze é um ano chave. Entre essas três alternativas, o que Lídice da Mata prefere? Brasil campeão do mundo, Eduardo Campos presidente da República ou Lídice da Mata governadora da Bahia?
LM - Podem ser as três alternativas (risos)? Eu não acho que em 2014 a gente tenha que se decidir por isso. Que o Brasil seja campeão é o desejo de todo brasileiro, mas a gente sabe que isso está distante, que a seleção vai ter que trabalhar bastante até lá. Basta ver o resultado da Eurocopa, o show de bola que a Espanha deu. Então, obviamente que a gente tem dimensão das dificuldades, mas quer acreditar, e deve, e pode ganhar. Nada nos impede de nesse período construir uma seleção que cumpra as tradições do Brasil no futebol mundial. No caso de Eduardo presidente, o meu partido tem o direito de sonhar com isso. O que não quer dizer que tenha que ser em 2014. Não há nada que diga, nem por parte das nossas decisões nem por portar das discussões do partido, que se encaminhe para a ideia de que Eduardo vai disputar a qualquer custo. Pelo contrário. Eu desafio o PT que mostre algum partido que seja mais leal do que o PSB. Tanto na sua política global, do projeto político, quanto nas votações objetivas na Câmara. Quantas vezes uma parte do PT votou contra projetos do governo? Dentro de um quadro – que eu acho uma ideia boba – onde se pudesse analisar essa fidelidade, eu acho que o PSB estaria disputando muito bem. Quando Ciro expõe essa ideia, às vezes assim meio agressivamente, é justamente porque essa é uma cobrança indevida que alguns segmentos do PT, estimulados por uma visão de partido único, ainda expressam. O PSB está apoiando o PT em cinco capitais brasileiras, inclusive em Salvador, que é o principal estado governado pelo PT. Não está no Rio Grande do Sul lamentavelmente. Nós estamos com candidatura do PCdoB [deputada federal Manuela D'Ávila, prefeiturável em Porto Alegre], que é uma candidatura que apoiamos desde a outra eleições e lamentamos é que o PT não esteja junto [lançou o deputado estadual Adão Villaverde]. A representação do projeto não está apenas no PT. Por que o Rio Grande do Sul, governado pelo PT, não pode ter o PCdoB à frente de uma prefeitura, representando um projeto do mesmo jeito? Em Sergipe nós estamos representando o projeto. Aí alguns do partido, mais sectários, dizem que é porque lá tem mais dificuldade para ganhar, que já é uma eleição muito difícil. Que vai ser o PSB porque o PT não sabe se ganhará, mas eu não acho. Eu acho que tem segmentos dentro do PT, como é o caso do governador Jaques Wagner, que demonstram que se sentem representados dentro do projeto por outras forças, e tem outros que não. E onde é que o PT está apoiando, em uma capital, o PSB? Apenas em Aracaju. Em todas as outras capitais onde o PSB disputa, não está sendo apoiado pelo PT. Nós poderíamos estar tendo a mesma cobrança. Então, isso não existe. Em São Paulo, pela sua expressão, nós fizemos um sacrifício enorme, e o partido, na hora em que foi convocado pelo PT, foi lá e garantiu ao presidente Lula e ao PT a solidariedade dentro de um projeto que nós reconhecemos que é o melhor para a cidade de São Paulo. E é um projeto difícil, não é um projeto fácil, não está dado que vão ganhar a eleição. Mas nós ficamos com o PT. Chegamos até a dar vice, escolhemos o nosso melhor quadro, o mais experiente, o mais representativo da cidade de São Paulo, que já foi prefeita, querida pela cidade. Infelizmente, não deu.


BN - Luiza Erundina...

LM - 
Ela [Luiza Erundina] não tolerou eu não diria nem o Maluf, mas a forma como a coisa do Maluf se deu. E eu acho que foi ruim mesmo, eu acho que foi mal feito, podia ter sido de outra maneira, que não chocasse tanto a militância política no país inteiro. A atitude de Erundina expressou um pouco essa revolta. Eu acho que está na hora de a gente parar e pensar também. É verdade que existe um certo grau de pragmatismo na política, que é preciso que seja compreendida e feita, mas nós não podemos nos aprisionar na ideia do poder pelo poder, do pragmatismo pelo pragmatismo. Isso passa, se nós não tivermos clareza, porque o poder é um pântano que nos arrasta para baixo. Nós temos que ter clareza ideológica e política para construir uma unidade que nos jogue para cima, em um projeto de poder democrático, profundamente democrático, que mexa com as estruturas culturais do país. O Brasil é um país que foi o último a abolir a escravidão no mundo, é um país machista, com raízes autoritárias muito profundas, então nós temos que superar isso. E superar isso com projetos politicamente arrojados. Não há nenhum partido que possa fazer uma tarefa dessas, de dimensões extraordinárias, sozinho. Isso é de uma arrogância enorme, de uma pretensão sem fim alguém imaginar que apenas uma pessoa ou apenas um partido possa fazer isso. É preciso construir isso com cuidado, o que não quer dizer que todos os métodos possam ser dos outros, possam ser repetidos, nem que todos os caminhos do pragmatismo possam ser trilhados.
BN - A senhora assumiu agora a liderança do PSB no Senado. Como está sendo essa experiência, agora com a CPMI de Cachoeira?
LM - Está sendo uma experiência muito rica para mim. Eu tenho uma experiência política muito diversificada, não fui muito tempo deputada federal, fui deputada federal como constituinte [1988], em um momento muito singular. Tive um mandato de deputada federal desses mais comuns, que todos têm, e logo depois fui para o Senado, que é uma experiência muito maravilhosa, muito rica. A CPMI de Cachoeira, infelizmente, está prisioneira da disputa política eleitoral. Nós vivemos um momento muito perigoso na CPMI que é justamente nos deixar todos, porque a composição leva a isso, a uma disputa entre PT e PSDB. A participação do PSB, juntamente com o PCdoB, tem sido justamente de tentar criar um elemento de equilíbrio nisso, atuando internamente junto com o PT, nas nossas discussões internas, e expressando isso nas nossas votações. Eu acho que muitas das disputas que estão acontecendo na CPMI nada tem a ver com a investigação do crime que nós deveríamos estar fazendo, que é investigar as ligações de Cachoeira com os agentes públicos e as empresas privadas, portanto de um criminoso e seus tentáculos. Mas já saiu muito disso. Você põe um governador, Agnelo [Queiróz], que não foi citado nenhuma vez nas gravações e quando chega lá basta ver as perguntas que lhe foram feitas. Só 20% falaram sobre o assunto que estamos tratando. Teve deputado que deu a sua opinião sobre o governo de Agnelo. Isso não tem sentido! Isso porque, nas escutas, estava envolvido um governador do PSDB.


BN - O Marconi Perillo [governador de Goiás]...

LM - 
Se transformou em uma questão do governo e da oposição. Quem não é do PSDB, mas está contra o governo de Lula e de Dilma, se junta ali para atacar o governo de Agnelo. Nós precisamos retomar o foco. E como há muita visibilidade da mídia, essa história se torna quase impossível de retomar ao centro. É um esforço muito grande, nós estamos vendo com muita dificuldade, não achamos que é das atividades mais nobres essa CPI, por essa característica que ela está tendo. Nós temos muito medo de que se ela não tiver o prumo, degringole para alguma outra coisa. Há alguns que estão na CPI e que querem transformá-la na CPI das empreiteiras do Brasil. Não nego que se deva ser investigado, mas aí se faz outra CPI, porque senão se misturam objetivos. Tem gente que já está se jogando tanto na eleição que pouco está se importando com a resposta que a testemunha ou o investigado vai dar. Quer é fazer a pergunta, que está gravada na tela da TV Senado da Câmara, para colocar isso no seu programa eleitoral. Nós tivemos situações lamentáveis de agressividade com o depoente, chegando ao nível do desrespeito à dignidade. É muito fácil ser corajoso com as câmeras de televisão e uma pessoa em situação de réu. Isso é muito fácil e bonitinho de ser, de se apresentar. Tudo isso está nessa coisa que eu falo, que é a raiz do autoritarismo no Brasil. Eu acho que a CPMI de Cachoeira revela coisas profundas que nós precisamos mudar no Brasil. Uma reforma política para valer. Nós não podemos, como força de esquerda, não denunciar que Cachoeira aconteceu agora, como o escândalo do caixa dois, do mensalão, como daqui a alguns anos teremos outro escândalo, porque este é o resultado de um modelo completamente histriônico, perverso e ruim de financiamento de campanha no Brasil.



BN - E, em sua opinião, qual seria a reforma política mais adequada ao Brasil de hoje, assombrado a toda hora com novas denúncias de corrupção?

LM - 
Ou nós modificamos isso para um modelo público e que tenha um rigor efetivo ou para quê que existe Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal Superior Eleitoral? Se essa é uma estrutura que não é existente em diversos países democráticos. É preciso que esse tribunal seja capaz de fiscalizar realmente a eleição, nós precisamos criar instrumentos para isso. A história de Cachoeira demonstra que nós precisamos avançar na tipificação de crimes no Brasil. Organizar o crime, mesmo sem realizá-lo, é crime também e tem que ser punido. Nós estamos até como uma bela proposta de projeto de código penal no Senado. Eu tenho a perspectiva de que vai passar muita pouca coisa por causa dessa composição do Senado e da Câmara. Está na hora de começar a se pensar seriamente em mudar a lei de licitações no Brasil, porque está claro que é uma lei do passado e que hoje tem servido para aprofundar a corrupção. É uma lógica que nós temos que romper. Não dá para não enfrentar essas coisas com coragem, estudar a legislatura de outros países para ver como isso é feito em outros lugares para poder ter a capacidade de criar algo mais elaborado. Porque que o crime existe, que o criminoso existe, que o corrupto existe, nós sabemos. Mas nós temos que ter a capacidade de fazer leis que possam inibir e punir essas duas coisas. Que é outra coisa grave nesse país: entra e sai escândalo e não há punição. Nós temos que ter capacidade de punir.